Caia a
tarde de fim de novembro em Buenos Aires. Um sol de primavera descia suavemente
no horizonte portenho, não sem antes observar atentamente um mar de alvinegros
vindo de todos os cantos para encher o Monumental e assistir uma epopeia. Mais
da metade deles eram botafoguenses. Eles vinham em grupos de amigos, em família
trazendo juntos filhos, pais, avós e até seus antepassados.
Como
tudo acontece com o Botafogo, o que seria um jogo de futebol virou um drama
shakespeariano. Ainda ecoava no estádio o apito inicial, quando Gregore, cujo
nome em grego significa atento e vigilante, num lapso de desatenção deu uma
entrada proibida no adversário e foi expulso. A torcida do Glorioso, acostumada
às tragédias, temeu pelo pior. Seriam mais de 90 minutos com um jogador a
menos.
Nesse
momento, enquanto toda torcida alvinegra botava as mãos na cabeça em sinal de
aflição, o sol portenho, antes de se esconder por trás do Rio da Prata, deu uma
paradinha a tempo de ver Didi, o príncipe etíope, se aproximar de Marlon
Freitas e lhe ensinar o que fazer. “Pegue a bola, coloque-a embaixo do braço chame
seus companheiros e diga: calma, gente, a Taça Libertadores é nossa, é só jogar
o que a gente sabe”.
Ao
mesmo tempo o sol jura que viu Garrincha chegar perto de Luiz Henrique e, com
seu sorriso maroto, pegar no braço do Pantera Negra e ordenar: “vai lá moleque,
faz eles de Joões”. E ele fez. Fez o primeiro gol, levou o pênalti do segundo,
marcado por Alex que joga na mesma posição que jogava o gigante Nilton Santos,
a Enciclopédia. Coincidência? Garanto
que não.
Segundos
antes do fim, intensa pressão atleticana, corações botafoguenses a mil clamando
pelo fim do jogo, eis que Júnior Santos incorpora o vivíssimo Furacão
Jairzinho, num toque de letra deixa dois defensores para traz e num rebote faz
o terceiro gol. No lugar do sol que já havia se posto, surgia uma estrela
solitária que iluminava a América. Era o fim do sofrimento. Era mais um passo
de um tango que canta os versos da alma botafoguense. Era a Glória Eterna.
“...Trago a vida agora calma
Um tango dentro d'alma
A velha história de um amor
Que no tempo ficou
Garçom, põe a cerveja sobre a
mesa
Bandoneon, toque de novo que
Teresa
Esta noite vai ser minha e vai
dançar...”