A chamada “grande mídia” nativa, apesar
do eufemístico esforço de se dizer independente, historicamente, sempre teve um
lado. O lado dos ricos. Seria mais educativo, além de honesto, fazer como fazem
os grandes jornais do mundo. Dizer claramente o lado que representam, o que em
tese, não configura nenhum problema, muito pelo contrário. O que não pode e não
deve é o jornalismo abrir mão da verdade factual, sob pena de deixar de ser
jornalismo para ser mero panfleto.
Infelizmente, é o que faz de forma
contumaz a nossa “grande” imprensa ao esconder e ou disfarçar verdades
gritantes para atender interesses comezinhos do seu dono, o mercado.
Em defesa dos interesses políticos e dos
fundos bolsos dos mais ricos, vemos na mídia que o debate econômico se dá
exclusivamente em torno de problemas fiscais que sinalizam para problemas no
futuro, mas que não afetam a maioria do povo no momento atual. Divulgam
diuturnamente um enorme pessimismo sobre a economia, enquanto resultados muito
positivos para a vida real de pobres e ricos são quase ignorados nas análises.
Divulgam a exaustão que a inflação está
descontrolada, quando na verdade ela está em média 4,73% em cada um dos últimos
dois anos, quando nos quatro anos anteriores a média foi de 6,17% ao ano. A inflação
média atual está abaixo da média dos últimos trinta anos (6,5% ao ano), desde
que foi criada a atual moeda em circulação.
Diariamente acham e divulgam pesquisas
mostrando um descontentamento popular advindos de uma estranha inflação dos
produtos alimentícios, mas não dizem que no ano passado os alimentos subiram
8%, menos que os 10% de crescimento na renda das famílias em geral e muito
menos ainda que os 19% de aumento na renda das famílias mais pobres.
Diante do caos previsto na economia
fiscal futura, nossa mídia não dá destaque ao recuo na taxa de desemprego que
chegou a 6,6% da força de trabalho no primeiro trimestre, em nível próximo do
mais baixo da série histórica para o período. A previsão atual é de que caia
para 5,9% até dezembro. A informalidade no trabalho recuou para 37,9%, taxa
situada entre as menores da série histórica iniciada em 2015.
A desigualdade de renda no Brasil atual,
medida pelo Índice de Gini, foi a mais baixa da história no ano passado. E a
renda per capita domiciliar mensal, a maior desde o início da série histórica,
em 2012.
Segundo o Relatório das Nações Unidas
sobre Estado de Insegurança Alimentar no Mundo, no Brasil, o número de pessoas
em situação de fome diminuiu de 17,2 milhões em 2022 para 2,5 milhões em 2023.
Portanto, cerca de 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome de um ano
para outro em nosso país.
O PIB brasileiro surpreendeu novamente
os analistas da mídia porta-voz do pessimista mercado e cresceu 1,4% no
primeiro trimestre, índice superior ao dos países da OCDE e do G7 que cresceram
apenas 0,1%. O crescimento se dá a despeito da imposição de uma assombrosa taxa
básica de juros, de 14,75% ao ano, nove pontos percentuais acima da inflação,
que desincentiva investimentos.
Vale lembrar que a mídia e seus
analistas, atuando como uma espécie de torcida organizada do Íbis, vaticinou
para 2023, que PIB seria 1,4% e deu 2,9%. Em 2024, previa-se 1,6% e deu 3,4%.
Essa mesma mídia propala uma pseudo
insatisfação dos empresários, mas os lucros das empresas no primeiro trimestre
foram excepcionais e superaram as expectativas do mercado. O lucro líquido das
387 companhias abertas não financeiras subiu 30,3% no trimestre, para R$ 57
bilhões, e as receitas cresceram 13,9%, para R$ 976,7 bilhões. Na área
financeira, os lucros dos quatro maiores bancos no primeiro trimestre cresceram
em média 7,3% e somaram R$ 28,2 bilhões.
Atingido por um processo de
desindustrialização nos últimos anos, no Brasil a indústria cresceu 3,1% no ano
passado. Em março, avançou 1,2% sobre fevereiro e 3,1% sobre março de 2024.
Portanto, se a nossa mídia levasse em
conta os basilares fundamentos da economia, certamente a opinião pública
estivesse mais otimista. Ou como diria o jornalista Pedro Cafardo, num
extraordinário texto publicado no jornal Valor Econômico recentemente e no qual me inspirei,
“ou esse país infeliz tem graves falhas na comunicação ou talvez sua
infelicidade e seu pessimismo não venham da economia, estúpido”.