15 junho 2025

É a economia, estúpido!

 

A chamada “grande mídia” nativa, apesar do eufemístico esforço de se dizer independente, historicamente, sempre teve um lado. O lado dos ricos. Seria mais educativo, além de honesto, fazer como fazem os grandes jornais do mundo. Dizer claramente o lado que representam, o que em tese, não configura nenhum problema, muito pelo contrário. O que não pode e não deve é o jornalismo abrir mão da verdade factual, sob pena de deixar de ser jornalismo para ser mero panfleto.

Infelizmente, é o que faz de forma contumaz a nossa “grande” imprensa ao esconder e ou disfarçar verdades gritantes para atender interesses comezinhos do seu dono, o mercado.

Em defesa dos interesses políticos e dos fundos bolsos dos mais ricos, vemos na mídia que o debate econômico se dá exclusivamente em torno de problemas fiscais que sinalizam para problemas no futuro, mas que não afetam a maioria do povo no momento atual. Divulgam diuturnamente um enorme pessimismo sobre a economia, enquanto resultados muito positivos para a vida real de pobres e ricos são quase ignorados nas análises.

Divulgam a exaustão que a inflação está descontrolada, quando na verdade ela está em média 4,73% em cada um dos últimos dois anos, quando nos quatro anos anteriores a média foi de 6,17% ao ano. A inflação média atual está abaixo da média dos últimos trinta anos (6,5% ao ano), desde que foi criada a atual moeda em circulação.

Diariamente acham e divulgam pesquisas mostrando um descontentamento popular advindos de uma estranha inflação dos produtos alimentícios, mas não dizem que no ano passado os alimentos subiram 8%, menos que os 10% de crescimento na renda das famílias em geral e muito menos ainda que os 19% de aumento na renda das famílias mais pobres.

Diante do caos previsto na economia fiscal futura, nossa mídia não dá destaque ao recuo na taxa de desemprego que chegou a 6,6% da força de trabalho no primeiro trimestre, em nível próximo do mais baixo da série histórica para o período. A previsão atual é de que caia para 5,9% até dezembro. A informalidade no trabalho recuou para 37,9%, taxa situada entre as menores da série histórica iniciada em 2015.

A desigualdade de renda no Brasil atual, medida pelo Índice de Gini, foi a mais baixa da história no ano passado. E a renda per capita domiciliar mensal, a maior desde o início da série histórica, em 2012.

Segundo o Relatório das Nações Unidas sobre Estado de Insegurança Alimentar no Mundo, no Brasil, o número de pessoas em situação de fome diminuiu de 17,2 milhões em 2022 para 2,5 milhões em 2023. Portanto, cerca de 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome de um ano para outro em nosso país.

O PIB brasileiro surpreendeu novamente os analistas da mídia porta-voz do pessimista mercado e cresceu 1,4% no primeiro trimestre, índice superior ao dos países da OCDE e do G7 que cresceram apenas 0,1%. O crescimento se dá a despeito da imposição de uma assombrosa taxa básica de juros, de 14,75% ao ano, nove pontos percentuais acima da inflação, que desincentiva investimentos.

Vale lembrar que a mídia e seus analistas, atuando como uma espécie de torcida organizada do Íbis, vaticinou para 2023, que PIB seria 1,4% e deu 2,9%. Em 2024, previa-se 1,6% e deu 3,4%.

Essa mesma mídia propala uma pseudo insatisfação dos empresários, mas os lucros das empresas no primeiro trimestre foram excepcionais e superaram as expectativas do mercado. O lucro líquido das 387 companhias abertas não financeiras subiu 30,3% no trimestre, para R$ 57 bilhões, e as receitas cresceram 13,9%, para R$ 976,7 bilhões. Na área financeira, os lucros dos quatro maiores bancos no primeiro trimestre cresceram em média 7,3% e somaram R$ 28,2 bilhões.

Atingido por um processo de desindustrialização nos últimos anos, no Brasil a indústria cresceu 3,1% no ano passado. Em março, avançou 1,2% sobre fevereiro e 3,1% sobre março de 2024.

Portanto, se a nossa mídia levasse em conta os basilares fundamentos da economia, certamente a opinião pública estivesse mais otimista. Ou como diria o jornalista Pedro Cafardo, num extraordinário texto publicado no jornal Valor Econômico recentemente e no qual me inspirei, “ou esse país infeliz tem graves falhas na comunicação ou talvez sua infelicidade e seu pessimismo não venham da economia, estúpido”.

01 dezembro 2024

Tu és o Glorioso!

 

Caia a tarde de fim de novembro em Buenos Aires. Um sol de primavera descia suavemente no horizonte portenho, não sem antes observar atentamente um mar de alvinegros vindo de todos os cantos para encher o Monumental e assistir uma epopeia. Mais da metade deles eram botafoguenses. Eles vinham em grupos de amigos, em família trazendo juntos filhos, pais, avós e até seus antepassados.

Como tudo acontece com o Botafogo, o que seria um jogo de futebol virou um drama shakespeariano. Ainda ecoava no estádio o apito inicial, quando Gregore, cujo nome em grego significa atento e vigilante, num lapso de desatenção deu uma entrada proibida no adversário e foi expulso. A torcida do Glorioso, acostumada às tragédias, temeu pelo pior. Seriam mais de 90 minutos com um jogador a menos.

Nesse momento, enquanto toda torcida alvinegra botava as mãos na cabeça em sinal de aflição, o sol portenho, antes de se esconder por trás do Rio da Prata, deu uma paradinha a tempo de ver Didi, o príncipe etíope, se aproximar de Marlon Freitas e lhe ensinar o que fazer. “Pegue a bola, coloque-a embaixo do braço chame seus companheiros e diga: calma, gente, a Taça Libertadores é nossa, é só jogar o que a gente sabe”.

Ao mesmo tempo o sol jura que viu Garrincha chegar perto de Luiz Henrique e, com seu sorriso maroto, pegar no braço do Pantera Negra e ordenar: “vai lá moleque, faz eles de Joões”. E ele fez. Fez o primeiro gol, levou o pênalti do segundo, marcado por Alex que joga na mesma posição que jogava o gigante Nilton Santos, a Enciclopédia.  Coincidência? Garanto que não.

Segundos antes do fim, intensa pressão atleticana, corações botafoguenses a mil clamando pelo fim do jogo, eis que Júnior Santos incorpora o vivíssimo Furacão Jairzinho, num toque de letra deixa dois defensores para traz e num rebote faz o terceiro gol. No lugar do sol que já havia se posto, surgia uma estrela solitária que iluminava a América. Era o fim do sofrimento. Era mais um passo de um tango que canta os versos da alma botafoguense. Era a Glória Eterna.

 

“...Trago a vida agora calma

Um tango dentro d'alma

A velha história de um amor

Que no tempo ficou

Garçom, põe a cerveja sobre a mesa

Bandoneon, toque de novo que Teresa

Esta noite vai ser minha e vai dançar...”

29 março 2024

Carta aberta aos amigos e colegas jornalistas

Caros amigos,

Vocês sabem o respeito que tenho por todos e, especialmente, o apreço que dedico a vocês, colegas jornalistas. É em nome desses sentimentos que vos escrevo essas mal traçadas linhas. Mas do que formação em comunicação social, eu tenho uma verdadeira paixão pela profissão de jornalista e uma imensurável admiração pelo seu papel na história.

Dito isto, assisto com perplexidade a desconstrução do jornalismo e do seu papel na defesa da verdade dos fatos e, em última análise, dos interesses da sociedade. As novas tecnologias, e uma lógica perversa que busca transformar o jornalismo em entretenimento, onde a busca por likes e audiências ocas, permite que futilidades e manchetes espalhafatosas sejam mais importantes que uma rigorosa e vigorosa apuração de fatos de interesse público, têm sido fortes adversários.

Mas não é somente esse o nosso problema. Num estado como o nosso, onde duas universidades formam algumas dezenas de jornalistas por ano – e isso não é problema - e onde, dos poucos veículos de comunicação que existiam num passado recente, minguaram em quantidade, restaram apenas dois caminhos a seguir como profissional de jornalismo: assessoria de imprensa; ou seu próprio veículo de comunicação - sites, blogs, etc. -. É aí onde temos outro imenso problema. Tanto num caso quanto no outro, o grande empregador e ou patrocinador é o Estado e este, na nossa cultura coronelista, não pede, manda.

Vivemos, nesse ponto, um grande dilema e eu entendo. Há uma peleja que sei que aflige a muitos: Independência x Sobrevivência. E quando se trata de sobrevivência, botar comida na messa da sua família, custear a escola dos filhos, etc., não dá para simplesmente cobrar uma coragem suicida. É preciso ter consciência para reconhecer essa situação e fazer o diagnóstico correto, receitar o remédio certo para curar esse mal que afeta também o jornalismo. Entender que o câncer que nos mata está no modelo de Poder que existe e que sequela não só o jornalismo, mas toda a sociedade.

Mas, amigos, eu entendo que, mesmo fazendo opção pela Sobrevivência e tendo que se entregar aos leões, é preciso fazê-lo com alguma dignidade. E, é preciso reconhecer, alguns colegas assim o fazem. Outros talvez, espero, venham a fazer. Não se trata de aconselhar ou ensinar nada, mas entendo que algumas posturas podem ser superadas. Para agradar o patrão ou patrocinador, não se deve ser mais realista que o rei; não deve fazer da legitima sobrevivência uma corrida para ver quem chega em primeiro lugar na corrida dos puxa-sacos; não deve se rebaixar tanto a ponto de desejar saúde ao “chefe” pelo espirro que ainda nem aconteceu; não deve escrever textos com o fígado, assumindo um ódio que nem o seu patrocinador nutre pela vítima de suas biles. Ainda que haja

algum grau de submissão - não existe almoço grátis -, tem que haver um limite, do contrário logo, logo, você ficará tão desacreditado que se tornará um peso e, assim, descartável.

Encerro a presente missiva, desejando uma Feliz Páscoa para todos e parodiando o grande Mário Quintana: os poderosos passarão... o jornalismo, passarinho!

Silvio Santos, jornalista

30 janeiro 2024

A história como referência

"A história é um carro alegre

Cheia de gente contente

Que atropela indiferente

Todo aquele que a negue..."

(Pablo Milanês)


 

Em julho de 2007, o ex-prefeito paulistano e ex-governador de São Paulo, João Dória, criou um movimento denominado Cansei que contou com a participação de celebridades como Hebe Camargo, Agnaldo Rayol, Ivete Sangalo e outros ricos e famosos para protestar contra o governo Lula. O referido movimento tinha por objetivo denunciar o "caos aéreo" atribuído ao governo federal.



A crise do sistema aéreo ocorreu em função do crescimento exponencial de passageiros gerado pela ascensão da "classe C". Durante o governo Lula, 36 milhões de pessoas saíram da miséria e 60% dos brasileiros tiveram incremento em sua renda.



A ascensão social criou uma nova "classe média" apta a, por exemplo, custear viagens. Tendo como foco essa clientela, companhias aéreas investiram na popularização das passagens e dezenas de milhões de brasileiros passaram a frequentar os aeroportos.

 


Dados divulgados pela ANAC registraram que o Brasil teve um incremento de quase 60 milhões de novos passageiros durante os governos do PT. A expansão do número de passageiros levou à criação de gargalos no sistema aéreo, resultando em longas filas e aeroportos lotados.

 

A situação se agravou em 2006, com a crise financeira da Varig, sobrecarregando companhias aéreas, gerando congestionamentos nas pistas de pouso e déficit de profissionais. Visando explorar politicamente a situação, a imprensa brasileira tratou de elevar ao máximo o drama.

 

Reportagens diárias relatavam o "caos nos aeroportos", com depoimentos de passageiros indignados por ficarem horas aguardando para realizar check-in. O termo "apagão aéreo" foi popularizado e a lotação dos aeroportos se tornou o grande foco dos debates políticos nacionais.

 

Não raramente, o debate era permeado por elitismo explícito e o preconceito de classe expressos no desconforto das camadas sociais altas e médias em dividirem seus espaços tradicionais com a "classe C". Socialites queixaram-se do porteiro que estava viajando a Paris.

 

Até professores universitários ficaram indignadas porque o novo público dos aeroportos tornava o espaço menos condigno, "parecendo rodoviária". O ápice da crise ocorreu em 17 de julho de 2007, quando a aeronave que fazia o voo 3054 da TAM sofreu um acidente.

 

Um Airbus da TAM, transportando 187 passageiros colidiu contra um galpão e um posto de gasolina ao ultrapassar os limites da pista de pouso e invadir a Avenida Washington Luís, nos arredores do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

 

Imprensa e oposição atribuíram a responsabilidade ao governo. Alguns dias depois, João Doria uniu-se ao executivo Paulo Zottolo, presidente da Philips, e ao advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, da OAB-SP, para lançar o "Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros".

 

O movimento ficou conhecido pelo lema "Cansei", que estampava os materiais publicitários, e tinha por objetivo criticar o "caos aéreo", a "corrupção" e "falta de segurança" do governo Lula. A iniciativa ganhou apoio de entidades patronais, da FIESP.

Também ganhou a adesão de políticos de oposição e empresários, além de ser promovido por atores da Rede Globo, apresentadores de televisão, cantores e celebridades em geral. O principal ato organizado pelo movimento foi um protesto na Praça da Sé, no centro de São Paulo.

 

Fartamente divulgado, o protesto foi marcado para 17 de agosto, um mês após o acidente. A manifestação contou com a presença de diversas celebridades: Hebe Camargo, Ana Maria Braga, Regina Duarte, Luana Piovani, Ivete Sangalo, Seu Jorge, Sérgio Reis, Zezé di Camargo, etc.

 

Apesar das convocatórias e da presença de celebridades, a adesão ao protesto foi baixa: cerca de 2 mil pessoas compareceram. E embora os idealizadores afirmassem que a iniciativa era "apartidária", a manifestação foi marcada por gritos de "Fora Lula" e "Fora PT".

 

Os parentes das vítimas do acidente foram ignorados pela organização e ficaram presos na rampa de acesso, sem permissão para ir até o palco, reservado para as celebridades. A presença dos parentes sequer foi anunciada pelos organizadores.

Agnaldo Rayol cantou o Hino Nacional e o mestre de cerimônias João Batista de Oliveira declamou o Hino do Exército, exortando o público a "lutar pela pátria com fervor". Já o padre Antônio Maria evocou a inspiração divina. "Hoje, Deus diz pra nós: 'Estou cansado."

 

Identificado como uma manifestação do antipetismo da elite, o movimento se tornou alvo de zombaria, sobretudo pelas cenas ridículas de socialites milionárias enroladas na bandeira nacional berrando que estavam cansadas — enquanto seguranças expulsavam moradores de rua.

 


Para piorar, um dos organizadores do evento, Paulo Zottolo, deu uma declaração lamentável ao criticar o governo Lula. "Não se pode pensar que o Brasil é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado".

 

A declaração de Zottolo lhe rendeu o título de "persona non grata" no estado do Piauí e conferiu ao movimento a pecha adicional de xenófobo.

 

Wadih Damous, presidente da seccional fluminense da OAB e parlamentar do PT, classificou o "Cansei" como "um movimento de fundo golpista, estreito, que só conta com a participação de setores e personalidades das classes sociais mais abastadas do estado de São Paulo".

 

Até mesmo o conservador Cláudio Lembo, governador de São Paulo, criticou a manifestação, dizendo que o movimento tinha "figuras conhecidas que sempre possuíram e possuem uma visão elitista do país" e ironizou o lema "Cansei" como um termo de "dondocas enfadadas".

 

Conceição Aparecida dos Santos, moradora de uma ocupação, pediu a palavra, mas foi convidada a se retirar. "Os pobres é que estão cansados. Pedi aos organizadores para falar ao microfone, não deixaram. Moro em uma ocupação aqui no centro, e eles estão para nos despejar".

*Fonte: Pensar a História, perfil no X.


30 outubro 2023

Calma, Cocada!

 

Havia um tempo em que as reações às movimentações políticas do PT eram sutis, maduras, comedidas, porque não dizer, mais inteligentes. Atualmente uma espécie de amadorismo somado a um tipo de oportunismo afobado tem deixado a malta a beira de um ataque de nervos. Calma, Cocada. Take it easy.

Desde o inicio do ano da graça de 2023, há um esforço de amplos setores do status quo, reverberados por “criativas” vozes de parte da mídia nativa, para que o governo de Fábio Mitidieri não tenha nenhuma oposição. O PT, que havia disputado a eleição com candidato e programa diverso, respaldado por quase metade do eleitorado sergipano e que por isso mesmo não lhe caberia outro papel senão o de opositor era, dia sim, dia também, retratado por colunas políticas, sites jornalísticos (?) e alguns programas de rádio, como uma prima donna de uma ópera, cujo libreto traz uma narrativa na qual a protagonista é seduzida por um tenor de voz curta e oferecida ao rei fanho. Seria uma ópera bufa com certeza, não fosse antes, trágica.       

Outro dia, a executiva estadual do Partido dos Trabalhadores se reuniu e aprovou por consenso - sim, isso mesmo que você leu – uma resolução na qual oficializava e justificava seu papel de opositor ao atual governo de Sergipe. Como essa decisão petista feria de morte a narrativa oficial, alguns programas de rádio e sites do baixo clero trataram imediata e imprudentemente de desqualificá-la, alegando, pasmem, que a resolução não era verdadeira pois uma determinada fonte não sabia nada a respeito. Aqui lembro uma grande colunista social sergipana e peço meus sais.

Os dias passaram, e depois de vários atos da cansativa e modorrenta ópera, eis que o PT resolve promover um uma plenária para ouvir sua militância. Pra quê. Fogo no parquinho. Ejaculação precoce nos adolescentes sites caça-níqueis. Notas, choros e ranger de dentes na malta governista. Bastou algumas postagens sobre o encontro de petistas nas mídias sociais, para apressados prestadores, sem consultar nenhuma fonte, sem saber o que acontecera na plenária petista, apresentarem descuidadas análises e ditando regras.  Ain, a instância municipal não pode isso, não pode aquilo, dizem os Einstein do universo panfletário.

Há um dito popular que se conselho fosse bom, não se dava, se vendia. Eu concordo com o ditado, mas mesmo assim, ouso quebrar a regra e oferecer um gratuitamente: parem. Tá feio. Vocês estão passando vergonha. Estão servindo de chacota. Observem seus colegas mais prudentes, mais sabidos, mais experientes. Aqueles que impõem limites. Saiam da bolha. Se vocês ouvissem a plenária do PT, além de terem produzido conteúdos mais qualificados, entenderiam melhor a contramão em que trafegam. Ouçam mais a voz das ruas. Por último, talvez o mais importante conselho. Acalmem-se. Tomem chá, Rivotril, ou seja lá o que for, mas acalmem-se porque vai ficar pior e vocês vão acabar – como diz aquele amigo radialista - tendo um custupio.    

19 setembro 2023

Gestos valem mais que palavras

 

Vejam como o governo de Sergipe vai construindo narrativas para justificar suas reais intenções e como elas induzem a opinião pública ao erro.

Li hoje na coluna Plenário, do conceituado jornalista Diógenes Brayner, onde, depois de ouvir o governador sobre a Fundação de Saúde, o jornalista é induzido a concluir que: “Ainda não há uma solução que resolva o problema, lembrando que o Ministério Público determinou a extinção da Fundação há dez anos.”

Primeira observação: o Ministério Público não determina. O MP ajuíza a ação. Quem determina é o Poder Judiciário depois que decide, e este não determinou em nenhum momento a extinção das Fundações.

Segunda observação: a narrativa governamental aposta mais uma vez na desinformação, pois não revela a verdade completa. Vamos a ela, então.

No caso em tela o MP, há anos, ajuizou uma ação civil pública, pedindo a extinção da Fundações de Saúde, questionando as leis que as criaram. Tempos depois, na mesma linha, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), entrou com uma ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no STF, alegando a inconstitucionalidade da lei que criou as Fundações de Saúde em Sergipe. Essa ADIN foi julgada recentemente e o Supremo decidiu por UNANIMIDADE, como IMPROCEDENTE. Ou seja, as Fundações de Saúde de Sergipe são legais e legítimas.

Mais: anos depois de criadas as Fundações de Saúde em Sergipe, sob governo Marcelo Déda, e pelas mãos do então secretário de saúde, Rogério Carvalho, o modelo serviu de referência para o governo federal criar a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), por meio da Lei nº 12.550, de 15 de dezembro de 2011, como uma empresa pública de direito privado (tal qual as nossas Fundações de Saúde), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), com a finalidade de prestar serviços gratuitos de assistência médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio diagnóstico e terapêutico à comunidade, assim como prestar às instituições públicas federais de ensino ou instituições congêneres serviços de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, ao ensino-aprendizagem e à formação de pessoas no campo da saúde pública. 

Trata-se da maior rede de hospitais públicos do Brasil. Suas atividades unem dois dos maiores desafios do país, educação e saúde, melhorando a qualidade de vida de milhões de brasileiros, por meio da atuação de uma rede que inclui o órgão central da empresa e 40 Hospitais Universitários Federais (HUFs), que exercem a função de centros de referência de média e alta complexidade para o Sistema Único de Saúde (SUS) e um papel de destaque para a sociedade. 

Portanto, diante das narrativas falaciosas e cheias de segundas intenções, é bom a sociedade sergipana, especialmente servidores das Fundações, e usuários do SUS, estarem atentos, fortes e preparados para uma resposta ao governador na linha de uma das blagues do grande e saudoso comunicador Hilton Lopes: “Nem vem de lagartixa, pois estamos de azulejo”.

15 setembro 2023

Show dos Horrores

 

As atrações dos circos não foram sempre animais treinados, malabaristas e palhaços. No fim do século 19 e início do século 20, anomalias humanas foram destaques nos shows, que ficaram conhecidos como Show dos Horrores (Freak Shows). Esses shows eram muito populares nos EUA, e tinham no elenco, anões, albinos e qualquer tipo de pessoa que fosse deformada por doenças.

O fim desses shows, nos meados do século passado, se deu com o avanço da medicina e também com as mudanças na cultura popular e do entretenimento. As anomalias foram explicadas como doenças ou mutações genéticas e, então, a sociedade começou a ver essas pessoas como iguais, e não bichos. Além disso, foi proibida a exibição dessas pessoas em show.

Pelo que vimos ontem, durante o julgamento das primeiras ações penais sobre os atos antidemocráticos de 08 de janeiro, os advogados bolsonaristas, na defesa (?) dos réus, buchas de canhão do pretendido golpe, reeditaram uma hilariante sessão do velho e ultrapassado Show dos Horrores.

Um desses protagonistas, o causídico denominado Dr. Hery Kattwinkel, em sua delirante oratória, discorreu sobre a obra literária “O Pequeno Principe”, segundo o nobre jurisconfuso, de autoria do pai da ciência política, Maquiavel. Claro, o velho Nicolau, antes de fazer sucesso com O Principe, deve ter escrito um livro falando do primogênito do rei quando ainda garoto de calças curtas. Ao final de sua apresentação, pensando estar diante de uma plateia em delírio e pedindo bis, o Dr. Jekyll - perdão, esse personagem é de outro filme -, digo, Dr. Hery, ainda soltou um “... lavando as mãos assim como Afonso Pilatos”. Danou-se.

Cá com os meus botões, eu já vivia encafifado com o fato de o judiciário ter em seus quadros alguém tão inculto como o conje da dona Rosangela, mas depois do que vi e ouvi ontem, fico com a impressão de que o que seria uma exceção pode ser uma regra. Alô MEC, vamos prestar atenção na qualidade da formação dos novos estudantes? Dá para fiscalizar essas faculdades que estão formando esses advogados? Alô OAB? Dá para explicar como o Dotô Hery foi habilitado? Como diz aquele amigo jornalista, crendeuspai.

É a economia, estúpido!

  A chamada “grande mídia” nativa, apesar do eufemístico esforço de se dizer independente, historicamente, sempre teve um lado. O lado dos r...