01 dezembro 2024

Tu és o Glorioso!

 

Caia a tarde de fim de novembro em Buenos Aires. Um sol de primavera descia suavemente no horizonte portenho, não sem antes observar atentamente um mar de alvinegros vindo de todos os cantos para encher o Monumental e assistir uma epopeia. Mais da metade deles eram botafoguenses. Eles vinham em grupos de amigos, em família trazendo juntos filhos, pais, avós e até seus antepassados.

Como tudo acontece com o Botafogo, o que seria um jogo de futebol virou um drama shakespeariano. Ainda ecoava no estádio o apito inicial, quando Gregore, cujo nome em grego significa atento e vigilante, num lapso de desatenção deu uma entrada proibida no adversário e foi expulso. A torcida do Glorioso, acostumada às tragédias, temeu pelo pior. Seriam mais de 90 minutos com um jogador a menos.

Nesse momento, enquanto toda torcida alvinegra botava as mãos na cabeça em sinal de aflição, o sol portenho, antes de se esconder por trás do Rio da Prata, deu uma paradinha a tempo de ver Didi, o príncipe etíope, se aproximar de Marlon Freitas e lhe ensinar o que fazer. “Pegue a bola, coloque-a embaixo do braço chame seus companheiros e diga: calma, gente, a Taça Libertadores é nossa, é só jogar o que a gente sabe”.

Ao mesmo tempo o sol jura que viu Garrincha chegar perto de Luiz Henrique e, com seu sorriso maroto, pegar no braço do Pantera Negra e ordenar: “vai lá moleque, faz eles de Joões”. E ele fez. Fez o primeiro gol, levou o pênalti do segundo, marcado por Alex que joga na mesma posição que jogava o gigante Nilton Santos, a Enciclopédia.  Coincidência? Garanto que não.

Segundos antes do fim, intensa pressão atleticana, corações botafoguenses a mil clamando pelo fim do jogo, eis que Júnior Santos incorpora o vivíssimo Furacão Jairzinho, num toque de letra deixa dois defensores para traz e num rebote faz o terceiro gol. No lugar do sol que já havia se posto, surgia uma estrela solitária que iluminava a América. Era o fim do sofrimento. Era mais um passo de um tango que canta os versos da alma botafoguense. Era a Glória Eterna.

 

“...Trago a vida agora calma

Um tango dentro d'alma

A velha história de um amor

Que no tempo ficou

Garçom, põe a cerveja sobre a mesa

Bandoneon, toque de novo que Teresa

Esta noite vai ser minha e vai dançar...”

3 comentários:

  1. Poesia pura! A estrela solitária ganha o seu Eduardo Galeano. Parabéns pela vitória Silvio e parabéns pelo texto!

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  2. Do seu companheiro Cássio Costa

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