22 outubro 2025

Orai e vigiai, Presidente!

 

Nos idos de 2005, o primeiro governo brasileiro liderado pelo presidente Lula se encaminhava para o final com um amplo apoio popular que prenunciava sua provável reeleição em 2006. Ao contrário do povo, o estamento, representado pela elite econômica nativa – ou os donos do poder, conforme Raimundo Faoro – rejeitava, como historicamente rejeitara, a ideia de repartição do bolo que vinha sendo colocada em prática pelo governo petista.

A oportunidade de pôr fim ao governo que ousava fazer justiça social no Brasil, surgiu para a malta endinheirada quando um determinado deputado de notória e extensa folha corrida, resolveu chantagear o governo exigindo espaços em troca de apoio na Câmara dos Deputados. Como o governo não cedeu, o deputado chantagista, hoje devidamente enjaulado, deu origem ao mito do Mensalão. Pronto. Estava ali a oportunidade que os fidalgos da aristocracia tinham para se livrar do que eles entendiam como uma ameaça ao seu modelo de domínio da coisa pública, e derrotar o governo identificado com as causas populares.

Para isso, a mídia e seus serviçais foram intimados para ecoar à exaustão o “mal feito” denunciado pelo deputado bandoleiro. Intelectuais autênticos e indigentes, udenistas da direita e da esquerda, jurisconsultos e jurisconfusos, membros da classe média que furam filas em farmácias e supermercados, dentre outros aventureiros, formaram as trincheiras desse exército de brancaleone. 

Esse espírito de guerra total para derrotar o inimigo a qualquer custo fez com que, durante o julgamento da Ação Penal 470, o famoso Mensalão, um homem branco, ministro do STF, afirmasse que o PT era uma “organização criminosa”. Outro ministro, um homem negro, mesmo sem provas, jurou que houve “compra de apoio político” e que os políticos acusados mereciam, além das penas sentenciadas, o “ostracismo”, ou seja, era a tática de aniquilamento do adversário. Uma mulher, também ministra do Supremo, afirmou, em alto e bom som, que “não havia prova cabal contra o José Dirceu (então ministro da Casa Civil e homem forte do governo), mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”.

Todos eles, o homem branco, o homem negro e a mulher, encantados com os afagos da mídia subordinada ao baronato, determinados em servir ao Príncipe (elite burguesa) e estimulados pela sanha Savonarolesca do Ministério Público Federal da época, praticaram verdadeiro justiçamento contra homens, cujo maior crime era serem pilares de um governo que ousou fazer justiça social praticando distribuição de renda e colocando o povo pobre no orçamento.

Passados vinte anos, esses dias, o STJ - Superior Tribunal de Justiça, finalmente repara as atrocidades cometidas lá atras e reconhece o erro judicial cometido, encerrando o processo por improbidade no chamado Mensalão, excluindo José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares da Ação Penal 470.

Nesse momento em que grupos de interesses se movimentam em lobbies para pressionarem o presidente da república na indicação do próximo ministro do STF, a lembrança daqueles fatos deixa claro que não é o gênero nem a raça que fazem um bom juiz ou uma boa juíza, mas o seu caráter, seus propósitos e seu compromisso verdadeiro com a justiça. Por outro lado, Lula deve ter aprendido com a experiência vivida. Da forma republicana como ele indicou os ministros do Supremo nos seus dois primeiros governos, certamente ficou uma lição. Restou provado que o republicanismo aprendido e praticado pelas elites desses trópicos, está fundado num velho ditado popular: farinha pouca, meu pirão primeiro.

Orai e vigiai, Presidente!

  Nos idos de 2005, o primeiro governo brasileiro liderado pelo presidente Lula se encaminhava para o final com um amplo apoio popular que p...